segunda-feira, 5 de novembro de 2007

DAS BESTAS QUE AS BESTAS PARIAM

"Dizia-se que vinham pessoas de muitos lados para ver o bicho, potro de poucos dias, que fugia a esconder-se debaixo duma égua assarapantada(...). Trazia numa parte do lombo listas escuras como as de um sardão, tão grandes que se podiam notar ao longe. Havia nesse lugar grande rumor, e eis que um dia um dos curiosos contou a versão da sua crença: que o bicho não era senão filho de um igual, que havia na quinta de um conhecido seu que em tempos o trouxera de África; contou também que o homem tinha por costume trazer o bicho pelas quintas noite fora, para que castiçasse bestas alheias sem dar disso notícia nem esperar consentimento. A todos a história pareceu incrível e desacreditaram-na. Desta guisa se lhes manteve a crença em feios desígnios da superstição (...)"
in Relato dos Dizeres Comuns, vol. I, Lisboa, 1757

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